Só dá elas no Fla x Flu

Flamengo e Fluminense são dois times do Rio de Janeiro, mas despertam paixões de milhões de torcedores Brasil afora.  Na torcida destes dois grandes clubes brasileiros, as mulheres têm uma participação especial. Nossas torcedoras desta semana são Priscila e Amanda, uma torce pelo Fluminense e a outra é do Flamengo. Conheça um pouco destas mulheres que dão charme e força ao futebol brasileiro.

foto fla flu

Priscila nasceu no Pará, mas mora no Rio de Janeiro e é a apaixonada pelo Fluminense. Ela é a uma das nossas torcedoras da semana, representa as mulheres que vibram e vão ao estádio torcer pelo seu Flu Quando se pergunta pra ela qual é o seu ídolo no futebol, assim como milhares de torcedoras, claro, ela lembra logo do jogador Fred.

priscila

Nome: Priscila Paiva de Castro Idade: 29 Estado Civil: Casada O que faz: Assistente social Onde mora: Cabo frio – RJ Time do coração: Fluminense Quando começou a torcer? Desde sempre! Jogo ou lance inesquecível: Final do Brasileiro de 2009 Qual é o seu jeito de torcer? Vibrando muito Ídolo no futebol: Fred Qual jogador você acha mais bonito? Fred Sonho de torcedora: Conhecer o Fred ————————————————————————————————————————– Amanda Campelo tem uma paixão além do jornalismo, é torcedora do Flamengo. Faz até promessa e adota um ritual em dia de jogo: arruma-se meia hora antes, e de bandeira na mão é só coração pelo seu time.

Amanda

Nome: Amanda Campelo Idade: 19 anos Estado Civil: Solteira O que faz: Produtora e Repórter na Rádio Cultura. Cursando Comunicação Social na UFPa. Onde mora: Belém Time do coração: Flamengo Quando começou a torcer? Bem, já nasci remista, mas comecei a torcer pelo Flamengo em meados de 2002. Na verdade, não sei ao certo em qual ano foi, porque foi num desses anos em que o Flamengo tava ameaçado de rebaixamento (que foram muitos). Meu amor pelo time começou mais pela torcida mesmo. Eu não entendia como que mesmo com um time que só fazia perder domingo após domingo podia ter tantas pessoas enlouquecidas que sempre lotavam o Maracanã como se nada estivesse acontecendo. Eu não entendia aquilo, mas sabia que queria fazer parte daquela nação. Jogo ou lance inesquecível: Maracanã, 06 de dezembro de 2009 – Flamengo 2 x 1 Grêmio.  Sem dúvidas eu nunca vou esquecer daquele jogo, do campeonato como um todo. O Flamengo saiu da Z-4 pra levar o título. Não tinha nem nascido na Libertadores de 1981, mas acho que o sentimento foi o mesmo: um título conquistado na raça, a especialidade do rubro-negro carioca. Qual é o seu jeito de torcer? O mais sem sentido possível. Sou totalmente coração durante os 90 minutos. Meu pai não gosta de futebol e acha um absurdo eu ficar gritando praqueles 11 homenzinhos que nem sequer estão me ouvindo. Dia de jogo é sagrado. Me arrumo meia hora antes, visto a camisa e sento na frente da tv com a bandeira na mão esperando começar. Ah, e sempre que tem um título importante em jogo, quando o Flamengo tem chances reais de conquista-lo, vale de tudo. Eu vivo fazendo promessas. Acho que isso é natural de todos os torcedores. Meu último sacrifício foi ficar quase um mês sem tomar sorvete (uma das coisas que eu amo comer) em prol do título da Copa do Brasil 2013, ainda bem que ele veio. Ídolo no futebol: Fabio Luciano. Camisa 3 e capitão do Flamengo no tri Carioca em 2009. Infelizmente ele se aposentou antes de conquistarmos o Brasileirão neste mesmo ano. Como não tive a sorte de ver Zico jogar, o capita se tornou a minha referência de competência e liderança. Qual jogador você acha mais bonito? Não faço ideia. Pra mim são todos lindos desde que joguem com raça e defendam a camisa. Sonho de torcedora: Assistir à um Fla x Flu no Maracanã.

Os povos indígenas e a paixão pelo futebol

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A paixão dos índios brasileiros pelo futebol não se explica apenas pela influência da cultura não indígena sobre os primeiros habitantes do país. Na Amazônia, há relatos de que etnias já desaparecidas  praticavam o jogo de bola com os pés. Mas a arte futebolística herdada dos ancestrais não é expressa apenas pelo acompanhamento e torcida  nos campeonatos dos clubes tradicionais do Brasil. Há os torneios oficiais disputados por vários povos indígenas e, é muito comum, quando se visita uma aldeia  no meio da tarde, encontrar os guerreiros disputando uma pelada de futebol. Tem muito índio bom de bola por aí.

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Foi no dia 19 de abril de 1979 que se organizou pela primeira vez uma seleção indígena para disputar uma partida de futebol, o jogo foi contra o Centro de Ensino Unificado de Brasília- CEUB. As etnias participantes foram Terena, Bakairi, Karajá, Tuxá e Xavante. A equipe indígena se apresentou em vários estádios brasileiros, inclusive no Maracanã. A primeira competição oficial foi em 1985, quando uma delegação indígena disputou os XIV Jogos Escolares Brasileiros realizados na cidade de São Paulo.

Futebol é modalidade de destaque nos Jogos dos Povos Indígenas

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Em 1996 foi realizada a primeira edição dos Jogos dos Povos indígenas. O lema do evento é: “O importante não é competir e sim celebrar”. Organizados pelo Comitê Intertribal Indígena com o apoio do Ministério dos Esportes, os jogos têm como objetivo e a integração das várias etnias, o resgate e valorização das culturas tradicionais. As partidas de futebol são disputadas por times masculinos e femininos e as regras obedecem aos padrões da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), com exceção do tempo que é de 50 minutos, com dois tempos de 25 cada. Segundo a concepção dos jogos, o importante é destacar o aspecto integrador do esporte e o respeito humano às sociedades indígenas.

Time feminino do Pará é campeão dos jogos indígenas de 2013

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As mulheres sempre tiveram participação importante no desenvolvimento das sociedades indígenas, nos jogos tribais não é diferente. Em todas as edições, os times femininos de futebol têm grande popularidade. Várias equipes disputam o torneio e, neste ano de 2013, as campeãs foram as índias paraenses. O time das Gavião Parkateje, da cidade de Marabá enfrentou as Kura-Bakariri do Mato Grosso em uma final de muita emoção.

Logo nos sete minutos do primeiro tempo, a camisa dois, Kwxrekati, fez o único gol do primeiro tempo. Na segunda etapa as índias matogrossenses pareciam que iam reagir, mas a jogadora Jonatana do time paraense fez o segundo para a nação Parkatege. Nos últimos minutos a representante de Mato Grosso, Arine Bakairi fez o gol de honra das Kura-Bakari, mas não havia mais tempo e a seleção do Pará sagrou-se campeã.

Ana Lúcia Oliveira

O Papão da Curuzu e a Guerra do Paraguai

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O que a Guerra do Paraguai (1864) tem a ver com o Paysandu Sport Club? O estádio do Paysandu está localizado no bairro do Marco em Belém do Pará. Muitas ruas receberam denominações em referência a episódios e a combatentes da guerra. A avenida Almirante Barroso foi em homenagem ao comandante da batalha de Riachuelo que deu vitória ao Brasil. A rua Barão do Triunfo recebeu essa denominação para lembrar o militar que liderou as tropas brasileiras na batalha de Tuiucué. A rua Humaitá foi a mais temida fortificação Paraguaia e a travessa Itororó foi a primeira batalha do que ficou conhecido como dezembrada, uma série de lutas que enfraqueceram o exército paraguaio. 

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A rua Lomas Valentina refere-se  à localidade onde foi erguido um novo quartel do Paraguai depois de uma derrota para as tropas brasileiras. A travessa Angostura foi um forte ocupado pelo exército brasileiro.  A rua Perebebui foi uma batalha estratégica para o controle da capital do Paraguai. A travessa Vileta foi um porto tomado pelo exército brasileiro. A rua Visconde de Inhaúma homenageia o Ministro da Marinha que comandou a esquadra brasileira em operações da guerra.  Marques de Herval foi comandante da cavalaria brasileira e denomina uma outra rua do bairro. A avenida Duque de Caxias é em homenagem ao general do Exército brasileiro. E a rua Curuzu, onde está fortificado hoje o quartel-general do Papão da Curuzu?

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Curuzu foi uma grande batalha da Guerra, ocorrida entre 1º e 3 de setembro de 1866. Às 7: 30 da manhã, a esquadra brasileira, com vários encouraçados, atacou o forte de Curuzu e após 3 dias de batalha, o forte foi dominado pelo exército do Brasil. A Guerra do Paraguai foi o maior conflito bélico já ocorrido na América do Sul, o Paraguai saiu destroçado com 80% de sua população morta, um triste momento da história daquela, então, jovem e próspera nação. A guerra foi motivada por interesses econômicos pelo controle da região do Rio da Prata no Sul das Américas.

2003: Segunda Guerra entre  Brasil e  Paraguai

No ano de 2003, pela Guerra das Libertadores das Américas, estiveram em campos opostos novamente Brasil e Paraguai. O exército brasileiro foi representado pelo Paysandu Sport Club, no campo oponente, o time Paraguaio Cerro Porteno. A batalha se deu no Estádio do Mangueirão e não foi o primeiro embate entre os times, em 1957 o Papão já havia goleado o Cerro por 3 X 0. Os Portenhos achavam que, na Libertadores, iriam dar o troco, mas o time paraense estava bem armado e aplicou uma fragorosa derrota de 6 a 2 no adversário.

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Na batalha do Mangueirão o Papão da Curuzu conseguiu um feito jamais realizado por outro time da região norte, seguiu na competição da Libertadores da América. Não chegou ao final, mas se depender do espírito guerreiro do Paysandu, esta batalha ainda vai ser ganha. Avante bicolores!

O Remo, o hino e o poeta

Você, remista, que vai ao estádio e fica rouco de tanto repetir os refrãos do hino do seu time querido, sabe quem foi o abençoado que compôs aquelas rimas perfeitas que seduzem o seu coração?

torcida remo

O autor de “atletas azulinos somos nós…” é um paraense nascido em Icoaraci, dono de uma biografia poética já conhecida, mas nem sempre lhe é atribuído o feito de unir em uma só voz milhares de torcedores do Leão. Estamos falando de Antônio Tavernad, o poeta da Vila, nascido em 10 de outubro de 1908 na ainda chamada Vila de São João do Pinheiro, atual Icoaraci. Aos dezenove anos obteve o segundo lugar no concurso de Contos Nacionais da Revista Primeira, foi editor da revista A Semana, importante publicação da década de 1930 em Belém.

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Remo, Filho da Glória e do Triunfo!

Ao que tudo indica Tavernard traduziu para os versos do hino o amor que tinha pelo time. Pouco se sabe da relação do poeta com o clube, mas um artigo de sua autoria, de 15 de agosto de 1931 publicado no Jornal A Folha do Norte intitulado “Remo o filho da Glória e do Triunfo”, revela a paixão que explicaria a composição da letra do hino:

Há vinte e seis anos ele nasceu da conjugação magnífica, quase olímpica do ideal com a mocidade. Encimou-lhe o berço o signo deslumbrante dos grandes predestinados. Ainda criança foi forte, Hércules menino, teve que sufocar as serpentes da inveja e da perfídia. Cresceu, agigantou-se. O destino deu-lhe compleição de aço e espírito de diamante. Mostrou-lhe muito ao longe, no píncaro da vertiginosa montanha, resplandescente e maravilhosa como o velocino de ouro ou o vaso de Graal, a sua finalidade. E ele avançou subindo, galgando vitórias, escalando apoteoses. Ele – o perfeito! Ele – o Inimitável! Ele – o Clube do Remo!”

Então, caríssimo torcedor do Remo, quando você ouvir o hino do seu amado Clube, saiba que foi este remista de Icoaraci, poeta jovem, quem emprestou seu lirismo poético para a paixão do futebol. Quer cantar junto? Estão aí para você a letra e a música, aproveite!

Letra Hino do Remo

Atletas azulinos somos nós,

E cumpriremos o nosso dever,

Se um dia quando unidos para a luta,

O pavilhão soubermos defender.

Enquanto a azul bandeira tremuleja,

O vento a beija, como a sonhar,

E honrando essa bandeira que flameja,

Nós todos saberemos com amor lutar.

E nós atletas temos vigor,

A nossa turma é toda de valor (bis).

Nós todos no vigor da mocidade,

Vamos gozando nessa quadra jovial,

E nós, os azulinos da cidade,

Rendemos viva ao nosso ideal.

Em cada um de nós mora a esperança,

Essa pujança, nosso ideal,

E porque somos do Clube do Remo

No nosso amor diremos que não tem rival

E nós atletas temos vigor,

A nossa turma é toda de valor (bis).

Dario X Bira: Jornal Resistência entrevista lendas do futebol paraense

resistencia

O Jornal Resistência fundado em 1978 em Belém do Pará com o objetivo de fazer oposição à Ditadura Militar saiu com uma edição extra sobre futebol. Em sintonia com a paixão dos brasileiros na edição nº 1 agosto de 1979, o Resistência publicou entrevista com duas lendas do futebol paraense. De um lado Dario, o rei Dadá, ídolo da torcida do Paysandu. Na outra ponta estava Bira, craque do Remo. O Blog Artilheiras resgata para você o resumo destas entrevistas históricas.

Dario, o Rei Vagabundo

Dario José dos Santos, Rei Dadá, Dadá Maravilha, Dario Peito de aço é um jogador de muitos nomes e muitos gols. Dadá é o quinto maior artilheiro do futebol brasileiro com 926 gols marcados, sendo 26 pelo Papão, onde jogou em 1979. Confira aqui um resumo da entrevista do craque Dadá ao jornal Resistência.

dario“Resistência foi encontrá-lo às vésperas do Remo x Paysandu, ao fim de um treinamento na Curuzu. Dario ou Dadá fala pausado, faz considerações, brincadeiras, admirado como uma possibilidade inalcançável por alguns vendedores de picolés que ainda restam no estádio vazio. Ele mesmo na infância dura e pobre deve ter sido como um desses meninos picolezeiros. Pegou porrada dos homens e da vida.

RESISTÊNCIA- Dá o nome de 5 craques do futebol paraense.

DARIO– No Remo tem o Anderson, o Mesquita, o Bira, o Bebeto, o Luiz Augusto e o Dico, que é um goleiro extraordinário. No Papão temos o Bacuri, o Carlinhos, o Patrulheiro, o Lupercínio e o Evandro.

RESISTÊNCIA– Quanto tu ganhas no Paysandu?

DARIO– Meu salário é 55 mil.

RESISTÊNCIA– Como é que tu vês essa diferença de salário entre jogador local, prata da casa e o jogador dos grandes centros, como é o teu caso?

DARIO– Eu hoje sou o maior salário do Papão, mas há três anos atrás, eu era o menor salário do Internacional. O Figueiroa ganhava quatro vezes mais que eu. Então cada jogador tem o seu valor. Eu não poderia vir para o Papão pra ganhar menos do que ganharia no Atlético Mineiro, no América Mineiro, no Botafogo, etc. eu vim por um salário compatível com minha categoria entende?

RESISTÊNCIA– Dá para viver só de futebol?

DARIO– Dá, eu vivo só de futebol.

RESISTÊNCIA– O que te garantes no futuro?

DARIO– Eu nunca penso no futuro. Eu penso sempre no hoje bem feito. O futuro a deus pertence, entende?

RESISTÊNCIA– Tu penduras as chuteiras com quantos anos?

DARIO– Eu não tenho nenhuma vaidade de pendurar as chuteiras, porque eu nunca fui considerado um craque. O craque, por exemplo, tem que largar a bola antes que ela largue ele. Agora o Dadá nunca vai passar ridículo, eu fiz uma imagem dentro do futebol, sem ser melhor ou pior do que ninguém. Então enquanto eu tiver condicionamento físico pra jogar eu jogo.

RESISTÊNCIA– Como é o relacionamento jogador x cartola?

DARIO– É um relacionamento ainda com muita desconfiança, porque ninguém sabe quem é quem. Nós sabemos que somos alguém quando estamos por cima, , quando estamos produzindo, porque quando o cara cai de produção, ele cai na desgraça. Ninguém confia em ninguém, nem na sombra.”

dario2 FUI CRIADO COM MARGINAIS, SE DORMISSE PERDIA A “INVENCIBILIDADE”

 

RESISTÊNCIA– Como foi a tua infância?

DARIO– Eu não tive infância, porque com cinco anos eu fui interno num colégio e com 18, eu fui para o Exército. Eu fui criado no SAM, com menores desvalidos e marginais. Eu já vi mais de 10 pessoas morrer, assim na minha frente o cara enfiando gilete. Eu não fui marginal porque Deus não quis.

RESISTÊNCIA– Mas quando moleque tu não eras considerado um craque?

DARIO– Nada, nada. Tanto que o meu nome era Dário. Fiquei como Dário até os vinte anos. Quando eu entrei no futebol, eu pensei, Dário tá dando azar, eu vou botar Dario, porque não tem acento mesmo.

Bira “Vou chegar à Seleção Brasileira”

Ubiratã Silva do Espírito Santo ficou conhecido pela torcida azulina como Bira. Campeão paraense nos três campeonatos que disputou pelo Remo, sendo artilheiro nos anos de 1978, com 25 gols, e de 1979, quando fez 32 gols, Bira é até hoje o maior artilheiro do Parazão em uma só temporada. Confira agora a entrevista de Bira.

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“Bira fala como dribla: curta e secamente, sempre em guarda contra uma pergunta mais violenta. E se sente ídolo da torcida do Remo, tem toda a postura de um craque. É tal a confiança que tem em si que, sem nenhum receio garante que um dia chegará à seleção brasileira.

RESISTÊNCIA– Faz um histórico sobre o Bira. Como foi que tu apareceste, como foi tua infância, enfim, como tu te transformaste no Bira.

BIRA– Eu comecei a jogar lá em Macapá, no Esporte Clube Macapá. Eu era juvenil de lá. Aí o Remo foi fazer uma partida lá. E eu joguei contra o Remo e me dei bem. O vice-presidente do Paysandu, que na época era o Stephan, que também estava lá, foi conversar com o papai e perguntou se eu poderia vir para o Paysandu e se eu tava afim, aí eu falei que topava e nós viemos. Veio eu, o Albano e o Aluysio, que é goleiro. Nós viemos pro Paysandu e disputamos todo o campeonato paraense de 76. Aí deu uma confusão comigo sobre negócio de contrato, que eu acabei não podendo disputar o campeonato nacional. E os dirigentes do Remo foram com habilidade comigo e acabaram me trazendo pra cá pro Remo.

RESISTÊNCIA– Quanto tu ganhas no Remo?

BIRA– Eu ganho 13 mil cruzeiros.

RESISTÊNCIA– Que é tu achas do Dario ganhar 55 mil?

BIRA– Eu acho uma ótima. Porque o Dario é um cara tri-campeão do mundo.

RESISTÊNCIA– Existe diferença entre jogador local e o jogador do sul?

BIRA– Em muitos casos há. Por exemplo: a gente não pode comparar o Bira com o Zico, com o Carlos Alberto Pintinho, eu acho que eles têm uma capacidade técnica mais apurada que a gente, que eu, no caso. A capacidade técnica do Zico é superior a minha. Muito mais apurada. Teve condições de desenvolver muito mais que eu. Condições que o próprio clube lhe proporcionou.

RESISTÊNCIA– Melhores jogadores pra ti.

BIRA– Mesquita, Anderson, Roberto Bacuri, Marinho. Pará tem muitos jogadores em boa forma. Agora sabe como é que é, tem problemas de diretoria que não quer soltar o jogador, que prende quando o jogador quer sair, estipula um preço exorbitante.

RESISTÊNCIA– O cartola prejudica o jogador?

BIRA– num ponto prejudica. Por exemplo: se ele achar que a saída do jogador vai prejudicar o clube, ele não vende o jogador. Não quer saber se aquilo vai ser a melhora do jogador. Ele quer saber do clube.

RESISTÊNCIA– Dá pra viver só de futebol?

BIRA– Não, no Pará não.

RESISTÊNCIA– O que tu sabes fazer fora do futebol?

BIRA– Eu sou mecânico de carro, manjo de carro, já trabalhei muito como mecânico. E também, se eu parar de jogar, se eu ficar numa pior, eu vou trabalhar. Não tenho vergonha de batalhar, pode ser ajudante de pedreiro, carpinteiro.

RESISTÊNCIA– Bira, o sucesso te subiu pra cabeça?

BIRA– Acho que não. Não adianta o sucesso se eu ganho pouco. Em relação aos ordenados do Remo eu sou um dos mais baixos. Eu como artilheiro do Brasil, na época do término do meu contrato anterior ganhava 7.500,00. Depois passou pra 13 mil.

RESISTÊNCIA– Nome completo?

BIRA– Ubitatan Silva do Espírito Santo, solteiro 24 anos, gosto de Chico Buarque, Betânia.

RESISTÊNCIA– Tu tens pretensões de chegar à seleção brasileira?

BIRA– Tenho sim. E vou chegar na seleção. Eu sou teimoso”

A íntegra da entrevista você pode encontrar no Jornal Resistência Nº 1 AGOSTO/1979- Edição extra, no acervo do Museu da Universidade Federal do Pará.

Por Ana Lúcia Oliveira e Mayra Leal

Vamos jogar às claras?

 

Eu sou Ana Lúcia, mulher e torcedora. Minha primeira paixão no futebol foi o Rodocan, time de minha cidade de Cametá. Hoje as listras pretas e amarelas do Rodo já não desfilam mais pelo estádio do Bacural, templo do futebol cametaense, mas a passagem desse legendário time pela terra deixou rastros em meu coração e aguçou meu olhar para o mundo do futebol.

A experiência nesta arte teve início nos campeonatos de botão dos quais participava com meus irmãos, já em Belém. O campo era um pedaço de carpete verde com as marcações das quatro linhas, o meio de campo e as grandes áreas marcadas com giz que afanávamos da escola. Tampinhas de refrigerantes cobertas de escudos dos times que desenhávamos faziam as vezes dos jogadores, os goleiros eram duas caixas de fósforos. Guardávamos muitas, muitas caixinhas de fósforos com as quais montávamos uma arquibancada de cada lado do campo, coberta de centenas de outras fichinhas de refrigerantes, a nossa torcida fiel. A bola era lapidada em giz até que atingisse uma perfeição esférica. Quando saia um goooooool, chovia papel que cortávamos picadinho pela sala de casa, levamos muitos cartões vermelhos por isto. Os joguinhos de botão eram disputados tanto pelos meninos, quanto pelas meninas da rua, sem censura.

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Futebol é arena para mulheres, por isso estou aqui para falar com mulheres que amam futebol como eu. Em nosso blog vamos driblar os adversários convictos de que futebol não é ofício para mulheres e mostrar que sabemos jogar em todos os campos da vida.